terça-feira, 29 de novembro de 2016

Tristeza

O vento passou e não o vi passar
Essa poesia que não posso colher
Entristeci de não ver

Entristeci das gentes entristecidas
exiladas que estão ao fogo voraz das Potências...
e me queimaram as impotências do sentir:
e a tristeza me entristeceu

Vilma Silva



sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Ideia II-III

Ideia

II

Eu, Terra
Beijo homens e mulheres
bichos, árvores e flores
precisos do amor no brinco do amor brincar
no brinde do amor o amor brilhar

E lhes preciso o amor e lhes preciso o amar
explícito amor
expresso amar

Eu, argila semelhada
Ânfora de sêmens
Semente e grão

Rizoma primevo
Flora engendrada
Semente e grão

                              
III

Brotam os viventes no corpo do amor
medram arbóreos no pó
e do pó brotam em pólen
Semente e grão
Flora estipulada

Medram os homens no corpo da terra
E verdejam em terra arbórea,
Respiram o verbo ao depois
nos mil braços do amor.

E o verbo se faz corpo
nos mil braços do amor
Semente e grão
Flora estipulada

***
Vilma Silva






quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Ideia



Durmo com brancos e pretos
amarelos e vermelhos,
alaranjados e marrons
os de cor nenhuma.
Eu, Terra
a ungida de todos os sêmens
a em todas as cores banhada 
Furta-cor eu arco-íris da irmandade humana
a que carrega e junta
todos irmanados sob as mesmas asas
Sou mulher não por natureza do corpo
Mas por razão de pelo corpo o amor cantar


sábado, 12 de novembro de 2016

Corpo transitivo

papiro sem data
o tear atemporal e inespacial
tece signos na memória celular:
as muitas pinturas no rosto fulgem;

do luzente sol
nos olhos dentro recolhe
o intransitável caminho da luz;

entre as mãos aprisiona
as espirais do olhar:
tear das galáxias;

extrato do não-tempo
entre quadraturas
argila moldada:
da sorte humana a figura;


Deserção

O fogo audaz do Amor ardor acende
Corre abraçar aquele quem o atiça,
Aberto estojo entrega-se inciente:
Desconhece o Amor haver sevícia...

A dor insiste, acossa e assombra ainda
O Amor que pertinaz resiste e fica:
Asa do amar que não sabe onde finda
O estojo que abriga essa joia rica...

Sobre o lume do Amor inda perfeito
O gume da frieza milícia encena
A dor exala olor de duplo efeito
Na dobra que difunde e expande a cena...

Exausto na agonia que o alucina
Seu manto azul retrai, embaça e mancha.
O Amor se veste enfim de musselina
E sobrepõe camada a mais de ensancha...

Adormecido envolto em gaze fina
No estojo encerra a flor de sua herança.



Vagas avaras, vozes vagas


O lendário mar apascenta águas e ascende
vagas avaras, veleiros de vozes vagas
violas veladas que em novelo o som lacra
e o velame o tempo entrega ao vento vigente

Vozes veladas, veleiros de vozes sacras
O ambulante mar novelos de afã divaga
E os ventos acata adiante entre mãos d´água
Vozes avaras, velames de violas vagas

O poema os ventos colhe entre mãos de adagas
Laudas votivas ecoam em ceia lauta
Vozes veladas, velames de vozes vagas

Veleiro que entoa os dons da esquiva jangada
Agudas adagas que entre vagas deságua
Vozes veladas, velames de vozes vagas